Em declarações à Lusa, João Alves, do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), explicou que a iniciativa - integrada no projeto LIFE Lynxconnect - reúne este organismo, a Infraestruturas de Portugal (IP) e a plataforma Waze, que em conjunto querem minimizar os atropelamentos de linces nas estradas, um dos principais fatores de mortalidade desta espécie por causas humanas.
Para já, o sistema está em funcionamento nas Estradas Nacionais (EN) 122 e 123 e no Itinerário Complementar (IC) 27, sendo os alertas acionados quase em tempo real, quando os animais entram nas áreas virtuais de território com 200 metros de largura, adjacentes às vias, para ambos os lados da faixa de rodagem.
“O sistema Waze emite um sinal ao condutor quando circula nessas estradas nos territórios onde existem linces. Se um lince se aproximar a menos de 200 metros de cada lado da estrada, recebe um sinal. Não diz que é um lince, mas diz que há um animal nas proximidades”, referiu o coordenador do programa de reintrodução do lince ibérico.
O processo de comunicação utiliza um dispositivo que assenta em tecnologia de rede LoRa (acrónimo para ‘long range’, em português longo alcance), uma tecnologia de rádio frequência que permite comunicação a longas distâncias com um consumo mínimo de energia.
É a sua interligação aos sensores presentes nas coleiras de seguimento dos felinos que permite que estes sejam localizados, no entanto, da população de quase 300 linces que habitam a zona do Vale do Guadiana, para já, apenas 12 têm coleiras com emissores LoRa.
“Nós conseguimos no ano passado colocar 12 coleiras já com os emissores e este ano vamos tentar colocar mais 30, em mais 30 animais”, adiantou João Alves. Este projeto, sublinhou, é uma iniciativa de Portugal, que cedeu a Espanha uma coleira equipada com um emissor LoRa para ser testada na zona da Andaluzia.
Porém, para o sistema funcionar é preciso que as estradas onde existem linces tenham antenas próprias do sistema LoRa, já que este não funciona “com as mesmas antenas, a mesma frequência - o termo técnico são ‘gateways’ -, que são colocadas aproveitando a torre onde estão os recetores dos sinais de telemóvel”, esclareceu.
“A Infraestruturas de Portugal e a e a Fundação Altice, que também colabora connosco, na cedência dos cartões GSM [Sistema Global para Comunicações Móveis], têm permitido a colocação dessas ‘gateways’. Já temos três torres de telemóvel com as ‘gateways’ do sistema LoRa na zona de Mértola e nas proximidades de Alcoutim”, adiantou João Alves.
O objetivo é tentar instalar este ano e no próximo mais três antenas dessa frequência, de modo a que o território onde vivem os linces, no Vale do Guadiana, esteja coberto pelas antenas do sistema, para depois emitir os avisos aos condutores através da aplicação Waze.
Por outro lado, a IP tem vindo a criar sinalização e painéis informativos para os condutores limitarem a velocidade, e tem vindo também a melhorar as passagens hidráulicas que existem por debaixo das estradas nos locais onde se sabe que existem linces ou em troços de estrada onde já morreram alguns animais.
Paralelamente, têm sido colocadas vedações nos troços mais críticos, os chamados ‘pontos negros’, de modo a evitar que os linces atravessem a estrada em cima da plataforma e utilizem as passagens hidráulicas, que são pequenos aquedutos onde corre um curso de água, explicou o responsável.
A população de linces na Península Ibérica está progressivamente a afastar-se do risco de extinção e superou os 2.000 exemplares em 2023, o dobro relativamente a 2020. O censo realizado nesse ano revela que no Vale do Guadiana habitam 291 linces.
Lusa