por VIDA RURAL - Rita Sousa Veloso, Dietista na Associação Portuguesa de Dietistas

A massa crítica da agricultura tem vindo a investigar e investir em cereais melhorados. Já se chegou à conclusão que o trigo é o cereal por excelência a apostar. 

É necessário aumentar a produção uma vez que esta assegura, aproximadamente, 12% das necessidades do mercado nacional. Algumas soluções passam pela homogeneização das culturas e pela maior rentabilização da produção.

Em grosso modo, é subproduto da produção de farinha de trigo melhorado, ou não, o gérmen de trigo. Esta parte do trigo tem de ser removida do grão de forma a não comprometer a qualidade da farinha pois pode conduzir à maior acidez e oxidação da farinha. Representa, aproximadamente, 3% da composição do grão, mas é a parte mais nutritiva do cereal. É uma pequena parte, mas o seu aproveitamento pode ser uma das muitas estratégias de rentabilização da produção de trigo.

Embora mais de metade da produção de gérmen de trigo seja utilizada para a produção de ração animal, este é um potencial suplemento alimentar. Não obstante, em 2014, a Associação Nacional de Produtores de Cereais diagnosticou que dentro das 7 + 1 fileiras (baby food; fileira do pão/farinhas melhoradoras; fileira das massas alimentícias; fileira da cerveja; fileira do óleo alimentar; fileira dos vegetais enlatados e multiplicação de sementes + alimentação animal) para 2 tipos de utilização principais (sementes e consumo humano) e 5 matérias-primas preferenciais (trigo mole, trigo duro, cevada, oleaginosas e proteaginosas), o consumo humano apresenta o potencial de valorização mais elevado. Estes dados parecem indicar que a aposta na utilização de gérmen de trigo para consumo humano não terá um grande risco associado.

Considerando o consumo humano, o gérmen de trigo não só é utilizado como matéria-prima para a produção de pão, cereais, produtos de pastelaria, carnes processadas, gelados, iogurtes e sobremesas de fruta, como também pode ser consumido em cru. Está disponível na distribuição moderna, podendo ser utilizado como “modular” hipercalórico e hiperproteico para fortificar iogurtes ou farinhas lácteas. É uma alternativa mais saudável para o polme de produtos perecíveis panados, para a preparação de almôndegas de carne, rolo de carne, entre outros pratos/produtos transformados, substituindo as farinhas refinadas. Finalmente, o óleo de gérmen de trigo é utilizado para a produção de vitamina E e produção de suplementos alimentares.

Mas afinal que propriedades nutricionais tem este produto que o tornam mais saudável? O gérmen de trigo é fonte de hidratos de carbono, proteínas de alto valor biológico, fibra, vitamina E e vitaminas do complexo B, tendo a presença de carotenoides, flavonoides, fitoesteróis e policosanol com propriedades bioativas. A mesma quantidade fornece 15 vezes mais hidratos de carbono, 3 vezes mais proteína, 7 vezes mais lípidos e 6 vezes mais minerais do que a farinha de trigo convencional. Apresenta lisina, metionina e treonina, aminoácidos muitas vezes deficientes em outros cereais.

Alguns estudos mostram benefícios para a saúde como a diminuição da absorção do colesterol, diminuição dos níveis do colesterol plasmático e hepático, a inibição da agregação plaquetária, o aumento do rendimento físico, a prevenção do envelhecimento, o aumento da fertilidade e a prevenção da carcinogénese. No entanto, a European Food Safety Authority (EFSA) refere que apenas existe evidência científica suficiente para suportar a relação direta entre o consumo de óleo do gérmen de trigo e a redução dos níveis séricos de colesterol.

O U.S. Centers for Disease Control and Prevention (CDC) recomenda que, pelo menos, metade da ingestão do grupo dos cereais seja através de cereais integrais. Assim, um adulto que tenha uma necessidade energética de 2000 kcal deverá distribuir 50 a 60% desta energia em hidratos de carbono, selecionando pelo menos metade sob a forma de cereais integrais, ou seja, cerca de 140 g/dia.

A digestibilidade deste gérmen é afetada pela presença de algumas moléculas como a rafinose, ácido fítico e aglutinina, melhorando com o tratamento térmico como a cozedura.

 

Dica para o produtor

A área de produtos dietéticos na distribuição moderna tem vindo a aumentar e a ter cada vez mais procura.

O consumidor tem uma grande oferta de produtos, muita informação, acabando por não realizar muitas vezes a escolha mais acertada.

Se produzir gérmen de trigo, eduque o consumidor relativamente à quantidade que este pode representar na sua dieta. Esta pequena informação pode tornar-se preciosa. Experimente!