Tenho uma alma inquieta
É uma alma cigana
Mas é cigana-poeta
Como ela poder, partir,
Descalça, pela estrada,
Sentir-me a dona do mundo,
Do tudo e mesmo do nada.
Ser-te fiel no amor
E amar-te, sem reservas,
Tendo por tecto as estrelas
E a cama feita de ervas.
Desfazer a minha trança
Sobre o teu peito moreno,
Guardar na minha lembrança
Teu cheiro de terra e feno.
Juntar, no mesmo galope,
O teu e o meu coração
E voltar, sempre, a amar-te
Em cada reencarnação.
Poder cantar meus poemas
De noite ou à luz do dia
Poder chorar se estou triste
E rir se tenho alegria.
Poder sonhar, sem entraves,
E ter toda a liberdade,
Partir e voltar, mil vezes,
Sem nunca sentir saudades.
Sou alguém insatisfeito
Que vive na ilusão.
Podem prender o meu corpo
Mas a alma? Essa não!
São as pesadas amarras,
Com que vivo dia-a-dia,
Que me levam a pisar
O mundo da fantasia.
Tenho uma alma inquieta,
É uma alma cigana
Mas é cigana-poeta!
NOTA
"Cigana Poeta" é um dos poemas com que Ofélia Bomba, médica psiquiatra e vice-presidente da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos (SOPEAM) participou no Congresso da União Mundial de Escritores Médicos (UMEM) em Benodet, França, em Setembro de 2015.