por João Carlos Santos | Licenciado em Património Cultural - Historiador | jcsantos87@gmail.com

Contudo, é importante explicar de que forma as influências da Primeira República na povoação viriam a estar na génese da Criação da Freguesia. A Proclamação da República, a 5 de Outubro de 1910, daria início ao cimentar de uma ideologia inspirada no movimento republicano, dando origem a uma reestruturação do funcionamento do Estado que teria o seu impacto junto das populações ao influenciar o seu quotidiano. Face ao desenrolar dos acontecimentos de Lisboa, a pacata povoação de pescadores encontrar-se-ia envolta numa dinâmica, em parte, provocada por esta ideologia anticlerical que acusava o clero de contribuir para o atraso da Pátria. Estas ideias encontravam fórum em alguns jornais da época, sendo exemplo marcante o Jornal O Povo Algarvio. Neste semanário temos notícia dos efeitos das pressões anticlericais republicanas nos membros do clero, leia-se: “O predio em obras de Santa Engracia, pertencente ao nosso amigo José Viegas, está sendo concluído a vapor para habitação d`un dos ministros da religião ultimamente condenados por desrespeitarem as leis da República” em O Povo Algarvio, 07/02/1912. Na mesma edição, mas dentro da questão militar, temos notícia das pretensões dos partidários monárquicos do Comandante Paiva Couceiro, relativamente ao potencial estratégico de Quarteira, leia-se: “Tendo os Couceiristas, numa reunião magna, julgado ser Quarteira o mais fácil ponto de acesso a Portugal, já para aqui mandaram dois enviados encarregados de lavar a torre velha que pelo visto, destinam a aquartelar tropas e equipagens”. Prontamente, o governo da República toma as previdências necessárias para frustrar a estratégia Couceirista e um possível desembarque de tropas monárquicas no areal Quarteirense, contudo nenhuma incursão do género jamais teve lugar. A República trouxe à sociedade portuguesa um conjunto de novos valores e símbolos, inseridos no âmbito das manifestações cívico-pedagógicas. Entre elas contava-se a Festa da Árvore, pretendia servir de veículo à transmissão de valores incontornáveis da ideologia republicana, tais como: a fraternidade, a educação e o culto da pátria. No dia 26 de Março de 1913, o povo de Quarteira realizaria as ditas comemorações da Festa da Árvore, contando com a presença de um fiel e distinto republicano, o Dr. José Pedro de Sousa. Desloca-se ao concelho de Loulé, a convite de um grupo de dedicados amigos da povoação de Almancil. A informação disponível no Jornal O Heraldo de 26 de Março de 1913, esclarece que uma vez chegado a Almancil alguém recorda da realização da Festa da Árvore na povoação vizinha de Quarteira, deslocando-se então a comitiva às republicanas comemorações. Em Quarteira foram recebidos por um cortejo formado junto da casa das escolas, onde seguia à frente o carrinho de mão com as árvores a serem plantadas, a tuna dos sócios do Grémio Recreativo e a Guarda-fiscal.