No passado dia 10 de Abril de 2016, numa entrevista ao jornal barlavento, a propósito do Centenário da Freguesia de Quarteira 1916 – 2016, o qual enquanto historiador local me vi na obrigação de partilhar com a população, também mencionei o advento dos 100 anos do Nascimento do único poeta popular que foi pescador. Quis o destino que este fosse de Quarteira, falamos então de Manuel de Brito Pardal, mais conhecido por «Poeta Pardal».

"Eu ser aquilo que sou...
Muitos não são, querem ser.
Já nasci com este dom,
Não foi preciso aprender."

Este artigo não vem adicionar nada de novo ao entendimento patente acerca da obra deste nosso conterrâneo, no entanto, pretende de forma simples e assertiva dignificar esta figura incontornável da História poética de Quarteira, cujo o exemplo de vida e pensamento poético se perpetuam até ao presente.

“Nas ondas do mar lá fora,

Nas ondas do mar cá dentro,

Fiz da minha vida uma História,

Com o meu fraco pensamento.”

Manuel de Brito Pardal, imortalizado “Poeta Pardal”, nasceu em Quarteira a 16 de agosto de 1916 e como diria o próprio: “Filho e neto de Pardais”. Uma breve biografia conta-nos que aos 10 anos de idade iniciou-se nas lides da pesca nas funções de moço de encolher e calador, atividades de auxilio à pesca, aos 14 anos aprende com o pai o gosto pela poesia, tal como refere: “de quem recebi o gosto pelo mar, pelo canto, pela poesia, pelo trabalho e pela vida”. Aos 19 anos casa-se e têm cinco filhos, com o nascimento da sua filha Ana Paula, compra uma lancha e batiza-a de mesmo nome dedicando-se em seguida à pesca da lula, safio e ao arrasto. Passando ainda pela arte da sacada e tresmalho, aventura-se nos galeões, mas sendo pessoa de forte ligação à família regressa após alguns dias.

“Ó vida, considra-sidra,

Ó vida, considra bem.

Mas p`ra que te quero eu vida,

Se amanhã não sou ninguém?”

A notória grandeza de Pardal encontra-se expressa na beleza do seu verso repentino, inspirado pela aragem marítima e pela dureza do trabalho e da própria vida. De facto, é aqui que Pardal se distancia dos demais, e alcança o patamar da lembrança, pois, poucos o são após a morte e de certa forma consegue-o, pela palavra dita e pela palavra escrita, por via do seu livro “Em cima do Mar salgado”, agora reeditado. Eleva-se assim enquanto a Voz do Povo de Quarteira, a Voz dos Pescadores, e agora aqui n’ A Voz do Algarve.

“Se a morte fosse interesseira,

Ai de nós, o que seria!

O rico pagava a vida,

Os pobres todos morriam.”

Coetâneo de António Aleixo, sabe-se da sua amizade e das longas noites de Fado “À da Glorinha Amém”. Não temos conhecimento se Aleixo terá mencionado Pardal em alguns dos seus poemas, mas o certo é que Pardal não esquece o amigo. Cita:

“O Aleixo descansou,

Não torna mais aparecer,

Nos versos que cá deixou,

Há muito para aprender.”

Em suma, as palavras de Pardal são reveladoras do seu maior desejo: “a missão do poeta é de ouvir e dizer o que os outros não ouvem nem dizem. Se ouvir cantar a minha poesia até me alegra o coração”, então que se ensine Pardal nas escolas de Quarteira, matéria extracurricular, uma aula dedicada à alma quarteirense, e que se lembre Pardal, como são bom exemplo as recentes Comemorações dos 100 anos do Nascimento do Poeta. No entanto, perdura a dúvida, algum dia verá aquele busto o limiar do oceano ou limitar-se-á ao grasnar das gaivotas? Pardal é pássaro da terra, mas tem a Alma no Mar.

 

Por: João Carlos Santos - Historiador