por Miguel Duarte | Escritor, DJ e Tradutor | jmduarte.md@gmail.com

Há um momento no jogo de ténis em que, gorada a glória próxima, naquele minuto de intervalo se cava um abismo a nossos pés e ficamos a contemplar por cordas travessas o solitário caminho da derrota até ao balneário. Nessa altura, a muralha que um jogador ergue em torno de si abate-se e a paisagem que se vê da tela é a da montanha implacável que Sísifo trepava sozinho.

Para muitos, é aqui que o galho racha e o fado condena. Não há, como no futebol, um colega que possa corrigir o que fizemos mal, nem, como na política, golpe de imprensa que desvie as atenções. O ténis vive-se assim: na necessária elegância do volley e no sacrifício de quem o executa.

O peso da responsabilidade é imenso e exige para o suportar atletas de notável fibra. É aí que se traça a linha que separa vencedores de vencidos. Não nos treinos ou bastidores, mas no court, onde o olho-de-falcão é a bancada e da transcendência depende o que cai dentro ou fora.

Durante a sua carreira Rui Machado teve que desafiar esse abismo várias vezes. Desde logo, aos 15 anos, quando decidiu mudar-se para Barcelona, deixando família e amigos para trás, para seguir o sonho de ser tenista. Mas, se alguma dúvida o assaltou então, a forma como a ultrapassou definiu o jogador que veio a ser: combativo, determinado, humilde. O que se seguiu, claro, foi uma carreira que, dispensando greves e caprichos, o consagrou como uma figura maior do desporto nacional.

Enquanto jogador, o Rui sagrou-se quatro vezes campeão nacional. Foi uma referência da seleção portuguesa. Venceu vários torneios. E, no seu auge, chegou a ocupar a 59ª posição do ranking ATP, um feito reservado apenas a um grupo de elite.

Agora, aos 32 anos, decidiu ser tempo de arrumar a raquete no saco. Para além do talento, há duas qualidades que são fulcrais para o êxito do tenista: determinação e lucidez. A julgar pelo currículo que aqui se celebra, não lhe faltarão oportunidades, no futuro, de cobrar em renovado sucesso aquilo que tem para dar em empenho.

Dos algarvios tem o orgulho pelo legado que lhes deixa. Quanto a Faro, cidade de insignes histórias que sempre soube honrar quem a honrou, deve começar a ponderar qual das suas ruas terá o nome deste seu ilustre filho. De preferência, uma rua ampla, solarenga, sólida e franca. Uma rua como o Rui.